A Ana Paula está desde agosto de 2009 na Inglaterra, no programa de trabalho voluntário da Abic, o mesmo que fiz em 2008. Como muitas pessoas me perguntam sobre a experiência que tive – que eu já relatei aqui, aqui e aqui no blog -, acho interessante buscar outras experiências e opiniões, pois cada vivência é pessoal e intransferível, não é mesmo? Pois aí vai o relato da Ana. Para ela, que em poucos meses estará de volta ao RS, desejo Boa Sorte nesta reta final de intercâmbio e aproveita bastante!
Qual foi a primeira impressão ao chegar à Inglaterra? O primeiro impacto?
Ao descer no aeroporto de Heathrow, a minha impressão foi a pior possível, porque tive que enfrentar uma agente de imigração muitíssimo mal-humorada. Não compreendia o que eu dizia e tampouco eu assimilei o que ela dizia, pois estava nervosa demais. Talvez tenha dito palavras grosseiras, não sei ao certo. Mas recebi ajuda de um indiano que inspecionava os guichês de imigração. A essa altura já estava caída em lágrimas, mas ele pediu que não chorasse e me levou até o setor onde deviam carimbar meu atestado de saúde. Então, depois ele me mostrou a saída e onde devia pegar minha mala. Fiquei perdida uns 45 minutos até encontrar a saída e nesse, meio tempo, me deparei novamente com a simpática inglesa da imigração. Depois fui até o salão de chegada de voos, onde pessoas aguardam outras pessoas com plaquinhas nas mãos (fulano de tal). Havia um homem com uma folha impressa escrita ICYE. Depois disso, ele tentou conversar comigo, mas eu não entendi sequer uma palavra do que aquele inglês falou, porque, ainda por cima ele, era gago. Bom, minha primeira impressão não foi das melhores. Mas assim que pegamos um ônibus para ir até o local do primeiro acampamento do ICYE, e vi através da clarabóia o Big Ben mostrando a hora exata, agradeci a Deus por estar naquele instante realizando um dos meus sonhos.
O que você achou da cultura local e das pessoas? O que mais estranhou ou achou diferente?
O que mais estranhei foi a indiferenca com que alguns nos trataram. Antes vale explicar que estou aqui na Inglaterra por um programa de voluntariado remunerado, trabalhando com pessoas com paralisia cerebral, num centro onde aqui eles vivem. Algumas vezes são visitados por familiares e amigos, mas a maior parte fica dentro das instalações do projeto, às vezes saindo para alguma atividade fora, como karaokê, visita ao zoológico, restaurantes, enfim. E ainda vale lembrar que é um pequeno distrito, bairro, localizado à uma hora e vinte de Londres. O homem que nos buscou na estação, um dos trabalhadores do centro, não trocou uma palavra conosco, nem sequer um bom dia. Ainda hoje, quando temos que trabalhar no mesmo grupo que ele, nao nos dá a mínima atenção. Somos quatro brasileiros, uma mexicana, dois hondurenhos e quatro alemães, todos trabalhando como voluntários e exercendo atividades com os residentes nesse mesmo centro. Sei que se me prolongar nas respostas, as pessoas que estao lendo desistirão de ler as outras perguntas, portanto, em síntese, o povo é frio, talvez alguns deles acreditem que a ilha da Grã-Bretanha é o centro do mundo, pois parecem não se interessar por acontecimentos exteriores. Ressalto que esse é um típico clima de interior, onde nao existe uma concepção maior sobre o mundo, creio eu. Por isso nos primeiros meses foi díficil me acostumar ao desconforto que sentia. Acredito que essa desatenção e frieza tenham sido o que mais me chocou. Outro ponto importante é a comida, que é horrível. Nao tem o menor prazer em prepará-la, pois encontram tudo pronto nos mercados e largam direto no microondas por alguns segundos miseráveis. Dificilmente você vai comer algo palatável na Inglaterra.
Fale um pouco do trabalho do seu projeto e as suas atividades que realiza.
Acho que me adiantei nas respostas, but, anyway. Mas posso exemplificar as atividades com os residentes, que consiste em ouvir música com os mesmos, ajudar nas aulas de história, artes, entre outras, fazer chá e café nos intervalos, alimentar aqueles que não conseguem fazer isso sozinhos e, de vez em quando, lavar alguma louça nos grupos, após o almoco ou o chá das cinco. Depois de algum tempo, você estreita laços com alguns dos residentes e eles se tornam pessoas muito especiais e importantes para a sua estadia por aqui. No primeiro instante, foi chocante ao ver todos dependentes a cadeiras de rodas e com extrema dificildade para movimentar braços e pernas. Extrema dificuldade na fala também, sendo que você descobre muitas outras formas de comunicação depois que se trabalha com esse tipo de situação.
O que está achando da experiência do trabalho voluntário no exterior?
O projeto em que estou inserida é flexível, temos duas folgas semanais e duas outras a cada mês trabalhado. E ainda outra folga se trabalharmos em feriados nacionais. Portanto, podemos manejar nosso tempo e programar viagens de uma semana quase todos os meses. O trabalho é bacana e eu recomendaria para quem está pensando em aperfeicoar o inglês, viajar pela Europa, abrir a cabeça, amadurecer.
Para quais lugares vc já viajou? Qual foi o lugar preferido e pq?
Vou a Londres uma ou duas vezes por mês, em média. Em outubro estive em Paris, que é deslumbrante! Uma cidade encantadora, com história viva a cada esquina. Estive também em Madrid e em Porto em novembro. Madrid me lembrou muito os grandes centros urbanos latinos, um pouco mais organizada e com um sistema de transporte eficiente, mas nada muito fascinante (a não ser o museu do Prado e o parque do Bom Retiro). E Porto, em Portugal, é uma cidadezinha pequena, antiga, mas com uma bela vista a beira do Rio Douro, e umas ruas estreitas cheia de casinhas multicoloridas. Vale ressaltar que andar de bondinho elétrico foi uma experiência maravilhosa, e também que o pôr-do-sol às margens do oceano Atlântico em Porto é um espetáculo divino (especialmente se você tem oportunidade de assisti-lo no seu aniversário, assim como eu tive). Entretanto, Paris foi meu lugar predileto, até o momento.
Faça um balanço desse intercâmbio até agora. Está correspodendo às suas expectativas?
Sim, está, e não me arrependo da escolha que fiz. Estou amadurecendo, me conhecendo melhor (talvez isso seja o mais importante de quando se cria asas), conhecendo lindos lugares, aperfeiçoando meu inglês, fazendo amigos de todas as nacionalidades, e também valorizando ainda mais minha terra e meus valores, pois aqui voce dá mais valor ao ambiente que cresceu.
Alguma dica para quem pretende se aventurar num programa de voluntariado no exterior?
Arriscar-se é a melhor opção, pois somente depois de estar aqui você pode dimensionar o que estou dizendo.
A Ana Paula está desde agosto de 2009 na Inglaterra, no programa de trabalho voluntário da Abic, o mesmo que fiz em 2008. Como muitas pessoas me perguntam sobre a experiêencia que tive – que eu já relatei aqui no blog -, acho interessante buscar outras experiências e opiniões, pois cada vivência é pessoal e intransferível, não é mesmo? Pois aí vai o relato da Ana. Para ela, que em poucos meses estará de volta ao RS, desejo Boa Sorte nesta reta final de intecâmbio e aproveita bastante!
1 – Qual foi a primeira impressão ao chegar à Inglaterra? O primeiro impacto?
Ao descer no aeroporto de Heathrow, a minha impressão foi a pior possível, porque tive que enfrentar uma agente de imigração muitíssimo mal-humorada. Não compreendia o que eu dizia e tampouco eu assimilei o que ela dizia, pois estava nervosa demais. Talvez tenha dito palavras grosseiras, não sei ao certo. Mas recebi ajuda de um indiano que inspecionava os guichês de imigração. A essa altura já estava caída em lágrimas, mas ele pediu que não chorasse e me levou até o setor onde deviam carimbar meu atestado de saúde. Então, depois ele me mostrou a saída e onde devia pegar minha mala. Fiquei perdida uns 45 minutos até encontrar a saída e nesse, meio tempo, me deparei novamente com a simpática inglesa da imigração. Depois fui até o salão de chegada de voos, onde pessoas aguardam outras pessoas com plaquinhas nas mãos (fulano de tal). Havia um homem com uma folha impressa escrita ICYE. Depois disso, ele tentou conversar comigo, mas eu não entendi sequer uma palavra do que aquele inglês falou, porque, ainda por cima ele, era gago. Bom, minha primeira impressão não foi das melhores. Mas assim que pegamos um ônibus para ir até o local do primeiro acampamento do ICYE, e vi através da clarabóia o Big Ben mostrando a hora exata, agradeci a Deus por estar naquele instante realizando um dos meus sonhos.
2 – O que você achou da cultura local e das pessoas? O que mais estranhou ou achou diferente?
O que mais estranhei foi a indiferenca com que alguns nos trataram. Antes vale explicar que estou aqui na Inglaterra por um programa de voluntariado remunerado, trabalhando com pessoas com paralisia cerebral, num centro onde aqui eles vivem. Algumas vezes são visitados por familiares e amigos, mas a maior parte fica dentro das instalações do projeto, às vezes saindo para alguma atividade fora, como karaokê, visita ao zoológico, restaurantes, enfim. E ainda vale lembrar que é um pequeno distrito, bairro, localizado à uma hora e vinte de Londres. O homem que nos buscou na estação, um dos trabalhadores do centro, não trocou uma palavra conosco, nem sequer um bom dia. Ainda hoje, quando temos que trabalhar no mesmo grupo que ele, nao nos dá a mínima atenção. Somos quatro brasileiros, uma mexicana, dois hondurenhos e quatro alemães, todos trabalhando como voluntários e exercendo atividades com os residentes nesse mesmo centro. Sei que se me prolongar nas respostas, as pessoas que estao lendo desistirão de ler as outras perguntas, portanto, em síntese, o povo é frio, talvez alguns deles acreditem que a ilha da Grã-Bretanha é o centro do mundo, pois parecem não se interessar por acontecimentos exteriores. Ressalto que esse é um típico clima de interior, onde nao existe uma concepção maior sobre o mundo, creio eu. Por isso nos primeiros meses foi díficil me acostumar ao desconforto que sentia. Acredito que essa desatenção e frieza tenham sido o que mais me chocou. Outro ponto importante é a comida, que é horrível. Nao tem o menor prazer em prepará-la, pois encontram tudo pronto nos mercados e largam direto no microondas por alguns segundos miseráveis. Dificilmente você vai comer algo palatável na Inglaterra.
Fale um pouco do trabalho do seu projeto e as suas atividades que realiza.
Acho que me adiantei nas respostas, but, anyway. Mas posso exemplificar as atividades com os residentes, que consiste em ouvir música com os mesmos, ajudar nas aulas de história, artes, entre outras, fazer chá e café nos intervalos, alimentar aqueles que não conseguem fazer isso sozinhos e, de vez em quando, lavar alguma louça nos grupos, após o almoco ou o chá das cinco. Depois de algum tempo, você estreita laços com alguns dos residentes e eles se tornam pessoas muito especiais e importantes para a sua estadia por aqui. No primeiro instante, foi chocante ao ver todos dependentes a cadeiras de rodas e com extrema dificildade para movimentar braços e pernas. Extrema dificuldade na fala também, sendo que você descobre muitas outras formas de comunicação depois que se trabalha com esse tipo de situação.
O que está achando da experiência do trabalho voluntário no exterior?
O projeto em que estou inserida é flexível, temos duas folgas semanais e duas outras a cada mês trabalhado. E ainda outra folga se trabalharmos em feriados nacionais. Portanto, podemos manejar nosso tempo e programar viagens de uma semana quase todos os meses. O trabalho é bacana e eu recomendaria para quem está pensando em aperfeicoar o inglês, viajar pela Europa, abrir a cabeça, amadurecer.
Para quais lugares vc já viajou? Qual foi o lugar preferido e pq?
Vou a Londres uma ou duas vezes por mês, em média. Em outubro estive em Paris, que é deslumbrante! Uma cidade encantadora, com história viva a cada esquina. Estive também em Madrid e em Porto em novembro. Madrid me lembrou muito os grandes centros urbanos latinos, um pouco mais organizada e com um sistema de transporte eficiente, mas nada muito fascinante (a não ser o museu do Prado e o parque do Bom Retiro). E Porto, em Portugal, é uma cidadezinha pequena, antiga, mas com uma bela vista a beira do Rio Douro, e umas ruas estreitas cheia de casinhas multicoloridas. Vale ressaltar que andar de bondinho elétrico foi uma experiência maravilhosa, e também que o pôr-do-sol às margens do oceano Atlântico em Porto é um espetáculo divino (especialmente se você tem oportunidade de assisti-lo no seu aniversário, assim como eu tive). Entretanto, Paris foi meu lugar predileto, até o momento.
Faça um balanço desse intercâmbio até agora. Está correspodendo às suas expectativas?
Sim, está, e não me arrependo da escolha que fiz. Estou amadurecendo, me conhecendo melhor (talvez isso seja o mais importante de quando se cria asas), conhecendo lindos lugares, aperfeiçoando meu inglês, fazendo amigos de todas as nacionalidades, e também valorizando ainda mais minha terra e meus valores, pois aqui voce dá mais valor ao ambiente que cresceu.
Alguma dica para quem pretende se aventurar num programa de voluntariado no exterior?
Arriscar-se, é a melhor opção, pois somente depois de estar aqui você pode dimensionar o que estou dizendo.
Tags:Intercâmbio Cultural, Voluntariado